sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Música Ambiente - Paranoid Android



Discutivelmente o single que lançou os Radiohead para o estatuto que têm hoje, sendo o single principal daquele que é o mais aclamado álbum da banda, "OK Computer" (simplesmente dos melhores álbuns que jamais ouvi até hoje), "Paranoid Android" é a música que aqui colocamos esta semana.

Não existe tal coisa como "os novos Pink Floyd", nem existe sequer a meu ver nenhuma banda cuja qualidade consegue igualar a dos mestres. Mas se me obrigassem a escolher aqueles que, simultaneamente em qualidade e em estilo mais se aproximam à banda de Waters... escolheria os Radiohead. De facto, é óbvio a influência que os Floyd tiveram na banda, no seu uso de sintetizador e em todo o seu estilo no geral. E, como os Pink Floyd, os Radiohead são nada mais nada menos que exploradores da música.

"Paranoid Android" é das minhas músicas favoritas do grupo (juntamente com "No Surprises", "2+2=5", "Let Down", "Karma Police", "Sit Down, Stand Up", "There There", "Airbag", "Fitter Happier" (indescritível...)... e é melhor parar por aqui, já que a lista se alonga ainda mais), e é talvez a que mais define e exemplifica todo o espírito do incrível "OK Computer".

A música tem pouco mais que seis minutos, e ao longo desse tempo existem acentuadas mudanças de estilo, riffs de guitarra à la Johny Greenwood, e uma voz melodiosa e poética de Thom Yorke (não muito frequente, já que a voz do vocalista da banda muda frequentemente de estilo e sentimento, dependendo do desejado... é talvez das vozes mais únicas da música contemporânea, e Yorke é de facto um enorme explorador).

O título refere-se, pelo que me dizem, à personagem Marvin, da saga literária "The Hitchhiker's Guide to the Galaxy", de Douglas Adam. Nunca li nenhum dos livros, nem vi sequer a adaptação cinematográfica, por isso não posso comentar muito.




A canção teve uma fase de desenvolvimento particularmente interessante. Começou, inicialmente, por serem três músicas diferentes, com as quais a banda não sabia exactamente o que fazer. Lembrando-se então de "Happiness is a Warm Gunn", música dos The Beattles que é obviamente três pedaços musicais unidos por John Lennon. Inspirando-se aì, a banda pegou nessas três músicas que tinha e uniu-as, criando assim "Paranoid Android". De facto, a música pode ser dividida em três partes: o início que define o ritmo, agradável, calmo e melódico, que chega ao fim com o espectacular som da guitarra de Greenwood... e aì começa a segunda parte, uma acentuada mudança de ritmo, mais calmo, até assombroso, com a voz de Yorke cantando sobre si mesma e sob a voz robótica que o grupo usa mais vezes no álbum ("Fitter Happier"...), parte essa que culmina numa terceira, já mais similar à primeira, a canção aqui atingindo o seu climax, com a guitarra eléctirca a liderar, sem a voz de Yorke, e com um uso subtíl uso de sintetizador. A segunda parte é, talvez, a que dá mais melancolia à canção, com o uso melancólico das várias vozes.

O videoclip da música (num estilo de animação que lembra o dos videoclips de Moby) é também muito bom. Esquizofrénico, bizarro, e obviamente único, o realizador do video só encontrou um cenário que a banda gostasse após se ter fechado no seu gabinete a ouvir várias vezes, sem paragens, a música do início ao fim, ao mesmo tempo olhando da janela para uma ponte distante (e, de facto, imagino que a ponte existente no videoclip seja no mínimo parecida à que o realizador por tanto tempo observou da janela do seu gabinete... ainda que creio que só uma das pontes inclua anjos a pilotar helicópteros...). Pessoalmente, é dos meus favoritos da banda.

"Paranoid Android" talvez não seja a definição perfeita do estilo dos Radiohead... pela simples razão de que é impossível definir o estilo dos Radiohead. Cada álbum é único dentro da discografia da banda, tal como a banda é única dentro da história da música. "Paranoid Android" tem o enorme mérito de ter levado às luzes da ribalta aquele que é um dos meus álbuns favoritos (meu e de muita gente...). É talvez das músicas da banda com o uso de guitarra mais directo, talvez até das músicas da banda com o menor uso de sintetizador, das mais directas. Mas também das mais épicas, das mais belas. A voz de Yorke hipnotisa, a guitarra de Greenwood maravilha, e a música em si está espantosamente elaborada, com a sua divisão, com os seeus ritmos... e com a sua letra ("What's this? (I may be paranoid, but not an android)"), ela própria indiscritível e bizarra, de certa forma dando um olhar à alma da banda e os seus sentimentos.

Mas "Paranoid Android" é o que é. E é, acima de tudo, uma grande música. Por isso mesmo é a Música Ambiente desta semana.

2 comentários:

Loot disse...

Uma das minhas bandas preferidas com uma das minhas músicas predilectas.

São sem dúvida exploradores e isso sempre foi uma das características que mais gostei neles.

Não conheço a dos Beatles mas esta sempre me fez lembras a "Bohemian Rapsody" por causa dos diferentes ritmos.

E o "Ok Computer" será sempre um dos álbuns mais importantes da minha vida. Musicalmente mudou-a é uma referência um clássico e comemorou o ano passado 10 anos :D

Abraço e mais uma grande escolha Gonçalo!!!

Gonçalo Trindade disse...

É tambem uma das minhas bandas preferidas e uma das minhas músicas predilectas (mas eles têm tantas, tantas...".

Por acaso esta também me lembra e Bohemian Rhapsody e até era pra ter posto isso no post mas no meio de tanta análise acabei de me esquecer. Acho que aquela mudança de ritmo a meio é memso brilhante, e dá uma carga emocional e épica à música que simplesmente não consigo explicar.

O Ok Computer é dos melhores álbuns e, tal como no teu caso, dos mais marcantes da minha vida. É um álbum enorme mesmo, obrigatório para qualquer admirador de música.

Ainda bem que gostaste da escolha Loot, estive indeciso entre que música deles escolher do álbum mas realmente esta falou um bocadito mais alto, e foi o single principal do OK Computer, tendo por isso uma certa importância.

Eles são grandes exploradores. Simplesmente não há ninguém como eles na música contemporânea, simplesmente nao há.

Abraço